Embora classificados às vezes como 'drogas', sites têm seu lado bom.
Pesquisas e reportagens sobre os males causados pelo uso desenfreado de redes sociais surgem a toda semana; há poucos dias, o próprio Facebook, ao se comparar a um bolo, advertiu que doce demais faz mal, e de tempos em tempos aparece alguma consultoria dizendo que esses sites são como drogas. Mas será que são tão ruins assim? Afinal, mais de 1 bilhão de pessoas usam o Facebook ao redor do mundo, o Twitter passou dos 500 milhões e outros serviços do gênero caminham para alcançar números semelhantes.
Um dos principais pontos que as plataformas virtuais têm a seu favor é o fator social, a coragem que proporcionam aos seus usuários. Muitas vezes o sujeito é tímido demais para se socializar, e redes como Facebook, Orkut, Twitter dão um empurrão. Esses sites, diz a psicóloga Luciana Ruffo, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP, criam "a possibilidade de aproximar pessoas e fazer com que elas pertençam a um grupo e, muitas vezes, ajudam-nas a encontrar apoio numa hora difícil".
As redes sociais não geram nada nas pessoas, elas servem apenas como facilitador ou impulsionador do que cada um já é. Tanto que não há uma doença diretamente associada à internet; mesmo o vício na rede é tratado como algo à parte, pois aquela pessoa na verdade já tinha propensão a sofrer algum distúrbio. Da mesma forma, não há tratamentos oficiais em que se recomenda o uso da rede para curar um desvio - existem apenas estudos sobre o tema.
Segundo a psicóloga Andrea Jotta, também da PUC, há no ambiente virtual uma "intensificação", por isso, embora seja comum os internautas tentarem montar uma personalidade positiva, é difícil fugir de quem se é na vida real. "Se eu tenho como característica algo mais amargo, é comum que meus comentários na internet sejam mais ácidos", conta. "Na rede social é mais difícil esconder o que é natural em você."
A psicóloga Dora Sampaio Góes, do Grupo de Dependência de Internet do Ambulatório de Transtornos do Impulso (que faz parte do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo), conta que o problema começa quando ocorre a substituição do mundo real pelo virtual: se a pessoa tenta diminuir o uso da web e não consegue, se tem mais amigos virtuais do que reais, deixa de ter uma vida cotidiana - se encontrar com amigos, fazer refeições, passear etc.
Mas até chegar a este ponto, a própria rede ajuda, pois escancara os rastros de cada um. O Facebook é o melhor exemplo disso por conta da linha do tempo, pela qual é possível olhar para trás e, se for o caso, identificar algum problema. Luciana adverte, no entanto, que só o vício pequeno dá condições de resolução própria: "Quando uma pessoa percebe que faz um uso excessivo e consegue parar, significa que aquilo não é patológico."
Outro recurso favorável são os aplicativos e jogos, que por trás dos objetivos óbvios ligados a entrenimento acabam servindo também como ferramentas de aproximação de pessoas. Dois internautas que não têm nada a ver um com o outro se encontram naquele ambiente por terem um FarmVille ou um Angry Birds em comum.
"Além disso", complementa Andrea, "nessas redes em que o foco é o humano [Facebook, Orkut, Google+], as pessoas possuem um perfil com fotos, situações, amigos que tinha pelos últimos 10 anos... Isso ajuda o ser humano a se sentir integral, você consegue ver as mudanças - ou falta delas - de uma forma mais linear, não fragmentada."
As redes sociais não dependem da web, elas são criadas a partir do momento em que pessoas estão presentes. Por isso, a internet é só um passo adiante, mas ajuda no treinamento comportamental por funcionar como encurtadora de distâncias e por gerar diversas facilidades. A recomendação para não encontrar as mazelas das plataformas é moderar sempre; Dora disse que o problema mais grave é a perda de controle, então o Facebook, ao se comparar com um bolo, teria acertado em cheio. "Essa é a ideia", apontou a psicóloga. "Tem de servir a nosso favor, não nos transformar em escravos."
FONTE: Olhar Digital
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